Entrevista – Pr. Rodrigo Silva – Reavivamento e Reforma
Rodrigo P. Silva é doutor em Novo Testamento pela Pontifícia Faculdade Nossa Senhora de Assunção (SP), especialista em Arqueologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém e fez estudos de pós-doutorado em arqueologia pela Andrews University, nos Estados Unidos. É professor de Arqueologia e Teologia Bíblica na Faculdade de Teologia do UNASP.
1 – Qual sua impressão pessoal sobre a iniciativa do Pr Ted Wilson em direcionar a igreja mundial para os temas Reavivamento e Reforma?
Muito positiva. Mas, por mais óbvia ou politicamente correta que pareça ser minha resposta, devo acentuar que ela é verdadeira. Hoje, vivemos num tempo em que, de um modo geral, as pessoas (especialmente as de espírito pós-moderno) tendem a se opor, ou pelo menos desconfiar de tudo que parta dos líderes. Isso ocorre até mesmo fora da Igreja. Perceba que, se um gerente chega para um grupo de funcionários de uma empresa e diz: “Atenção pessoal! Hoje, às 16:00h, a diretoria convocará a todos para apresentar algumas mudanças em nosso setor!” Dificilmente haverá um clima de boa expectativa. A maioria, senão todos, pensará que se trata de um corte de funcionários, de um aumento das exigências ou de um atraso dos salários. Ninguém pensa que pode ser coisa boa. Afinal, “pode vir algo de bom da administração?”. Esse mesmo pessimismo invade nosso meio – felizmente não em todos. Alguns dentre nós, no entanto, têm por tendência desconfiar de qualquer plano que venha de cima, por mais espiritual que seja. A própria lenda urbana de que os membros terminarão a obra sem nenhuma intervenção dos pastores é um indício desse sentimento. Não creio que deva ser assim. Se um líder não faz nada, pessoas de mentalidade dissidente afirmam que ele não está cumprindo seu papel pastoral. Se faz, desconfiam que é por razões políticas, nunca espirituais. Tem gente que nunca está satisfeita com nada, sempre encontra algo para reclamar. Ora, não ignoro que as falhas existam, mas naquilo que é bom devemos apoiar nossos líderes, principalmente quando o programa que sugerem está totalmente de acordo com as recomendações da Bíblia e do Espírito de Profecia. Não creio que um projeto como este deixe de ser espiritual apenas porque veio de modo oficial e não como um movimento anônimo, não planejado de um grupo de leigos orando por reavivamento e poder. Louvo a Deus por poder testemunhar essa iniciativa como a primeira atitude administrativa do Pr. Wilson assim que foi eleito em Atlanta. Eu estava lá e vi seu sermão no sábado, foi algo realmente impressionante.
2 – Lideres adventistas anteriores também tentaram promover o Reavivamento e a Reforma da igreja no passado. Existe algo no presente que pode servir de diferencial?
Provavelmente não! Mas, se olharmos com cuidado algumas passagens bíblicas acerca do recebimento do Espírito Santo (e também alguns textos de Ellen White), veremos que a ordem divina era para um “contínuo” de busca pelo reavivamento. Algo que a igreja nunca deveria ter interrompido desde que Cristo ascendeu aos céus. Aliás, foram as interrupções que trouxeram apostasias e esfriamento da fé, senão Cristo já teria voltado. Portanto, não creio que devamos buscar uma “novidade escatológica” no programa para nos envolvermos mais seriamente com ele. Devemos lembrar que reforma e reavivamento (como a própria etimologia sugere) não significa trazer algo novo, inédito, que nunca aconteceu, mas antes “resgatar” um passado importante que, por alguma razão, se perdeu. Como crente, meu mais profundo desejo é que o Senhor volte logo e que esse seja o movimento final para vermos Cristo nas nuvens do céu. Contudo, se a despeito deste esforço coletivo da IASD, o Senhor ainda demorar mais 100 anos, não creio que erramos ou perdemos nosso tempo. Afinal, o papel da Igreja é estar continuamente buscando a presença e o poder do Espírito Santo de Deus. Infelizmente, criamos um falso conceito de que a condição imediata da Volta de Cristo sugere maior busca do Espírito por parte do crente. Não creio que deva ser assim. Não creio que Lutero tivesse menos necessidade do Espírito Santo apenas porque viveu, no mínimo, 500 anos mais distante do advento do que nós. É claro que o tempo do fim traz consigo demandas nunca antes experimentadas, mas o dever e a necessidade de se buscar o Poder do alto é uma constante em qualquer ponto que estejamos da história da Igreja de Deus. Uma pergunta que cada um de nós deveria se fazer é a seguinte: se eu soubesse que a volta de Cristo seria em uma semana, buscaria mais a presença de Deus do que se soubesse que seria daqui a mil anos? Essa é uma pergunta séria que nos leva à reflexão. Quero a Cristo em minha vida porque o amo, ou porque temo a brevidade de sua vinda?
3 – Estes assuntos são geralmente circundados de muita polêmica. Que dica você daria a um irmão leigo para que ele tenha em sua vida o verdadeiro reavivamento e a verdadeira reforma e não seja enganado por ventos de doutrinas?
Essa é uma boa pergunta. Note que ninguém falsifica uma nota de 15 reais. Uma pessoa pode até “inventar” uma nota dessas, mas nunca falsificar. Pois só se falsifica o que existe. Ademais, a principal característica do falso é a semelhança com o verdadeiro. E como reconhecer a fraude? Como distinguir um do outro? Só há um meio: conhecendo e convivendo intimamente com o verdadeiro. Deixe-me ilustrar: uma pessoa que nunca usou um tênis legítimo da Nike, um perfume francês ou um relógio Rolex, pode ir a uma banca de camelô e comprar uma imitação barata de qualquer destes produtos sem experimentar qualquer desconforto ou desagrado com a mercadoria adquirida (pelo menos no começo antes que comessem a dar defeitos). Agora, se um empresário rico, acostumado com requinte e a sofisticação for presenteado com qualquer desses produtos falsos, só de olhar ou experimentar ele notará que há algo errado. O cheiro do perfume pode até ser parecido, mas não é o mesmo que ele sentiu em Paris e o tênis e o relógio não têm jamais o conforto e o design dos originais. Cinco minutos, ou menos, são o suficiente para ele perceber que se trata de pirataria barata. A ilustração pode até parecer esnobe, mas não é. Considerando que a dádiva do Espírito de Deus é uma riqueza para o que a recebe, quem está acostumado a uma comunhão diária e pessoal com Deus é rico do poder de Cristo, logo, vai imediatamente sentir o mal gosto da farsa assim que ela se manifestar. É uma questão de feeling e bom gosto espiritual. Por isso, entendo com base na Bíblia que o discernimento no fim não virá por acúmulo de conhecimento teológico, por cultura formal, muito menos por tempo de convivência na igreja ou experiência de vida. Virá por comunhão íntima e pessoal com o Senhor. Muitos podem imitar com perfeição a voz rouca do ex-presidente Lula, mas a Dona Marisa certamente saberia distinguir a imitação do original. Jesus também falou que as suas ovelhas reconhecem a voz do bom pastor e o seguem, porque convivem com ele. São estes os “eleitos” e o Senhor jamais permitirá que o Diabo os engane.
4 – Um dos grandes problemas que circundam os temas Reavivamento e Reforma, são as desavenças entre irmãos que supostamente abraçam a mensagem e irmãos que supostamente não dão ouvidos a ela. Se eu entendo que aceitei a mensagem e tenho buscado profundamente a renovação de Deus para minha vida espiritual, qual a melhor forma de fazer com que outros tenham experiência semelhante e sejamos finalmente reavivados individualmente e como povo?
Aqui temos que distinguir algumas coisas. Primeiro, o grau de maturidade na fé que cada um vai adquirindo ao longo da santificação. Algo que é obvio para mim hoje, não o era quando eu tinha 15 anos. Algo que é óbvio para alguém nascido em São Paulo, não é necessariamente óbvio para alguém que nasceu no Cairo. Quantas vezes chegamos para um ente querido comunicando que descobrimos algo em nossa vida que precisamos urgentemente mudar e nos surpreendemos quando ele(a) nos revela: “Há tempos estou tentando lhe dizer isso, mas você insistia em não entender. Finalmente alguém abriu seus olhos”. Tudo tem seu tempo. Nosso grande problema, para citar K. Jaspers, é que queremos “julgar os outros com nosso código de valores”. Deixemos Deus ser Deus e cuidemos de nossa própria caminhada de maturidade cristã. Em segundo lugar, devemos ter em mente a diferença entre coisas que fazem parte da maturidade cristã (e, portanto, podem ser toleradas) e coisas que são claramente uma afronta ao Senhor. Eu não posso agora, em nome do grau de maturidade de cada um, admitir uma pessoa em adultério para ser oficial da igreja apenas porque, supostamente, ele não atingiu ainda o amadurecimento necessário para evitar aquele comportamento. Não é assim. “A graça, escreveu o teólogo D. Bonhoeffer, é de graça, mas não é barata”. Cuidemos com o mito da graça barata! Mas, para que não haja excessos, deve-se ter bem claro o que é minha opinião particular, meu gosto pessoal ou ainda meu estágio de maturidade cristã e o que é um claro “assim diz o Senhor” que não pode ser violado sem sérias consequências para o indivíduo e para o povo de Deus. Aos que erram, ofereça-se a misericórdia e o apoio fraterno da igreja, mas nunca a conveniência com o mal. Ainda sobre a maturidade cristã, deixe-me dizer que não se trata de uma realidade linear onde membros da igreja, quais carros de corrida, estão emparelhados uns mais à frente e outros na retaguarda. Não se trata disso. Eu posso ser mais maduro espiritualmente que meu irmão no quesito da modéstia cristã e ele ser mais maduro que eu no que diz respeito à Reforma de Saúde. Assim, até mesmo um jovem recém convertido pode, num aspecto mas não noutro, ter alcançado maior maturidade que um ancião de igreja. Quando Cristo voltar, o que importa é que estejamos ininterruptamente caminhando rumo à perfeição e não em que estágio ou velocidade estejamos de nossa caminhada. Uma palavra final quanto às diferenças doutrinárias: devemos ter em mente o que são elementos decisivos de nossa teologia (dos quais não podemos abrir mão, senão em total prejuízo de nossa identidade denominacional) e o que são pontos em aberto onde, dentro da respeitabilidade cristã e o bom senso (para que se evitem especulações descenessárias), irmãos de uma mesma igreja possam apresentar opiniões diferentes sem estarem desunidos. “No essencial”, como disse Agostinho, “devemos ter unidade, no não essencial, diversidade, porém em tudo, caridade!”. O que não podemos é ser um exército que atira em seus próprios soldados (principalmente quando estes estão feridos). Neste sentido, minha própria vida de comunhão com Deus e os frutos desta comunhão poderão ser o melhor incentivo para que meu companheiro de Igreja também busque o reavivamento pelo exemplo que viu em mim. Noutras palavras, a dica é pregar muito, mas falar apenas o essencial. Certa vez, eu li que um grama de meu exemplo vale mais que uma tonelada de meus conselhos e eu concordo com isso.
5 – Que relação existe entre o cumprimento da profecia referente ao Reavivamento e Reforma da igreja, e o cumprimento da profecia, a volta de Jesus?
Talvez essa pergunta tenha a ver com o delicado tema da tardança versus tempo determinado por Deus para juízo final. Acontece que, se atrelarmos demais a volta de Cristo ao Reavivamento, poderemos erroneamente colocar Deus muito dependente da Igreja para cumprir sua promessa. Por outro lado, se separarmos demais os eventos, tiramos toda a necessidade de preparo dos crentes e damos a impressão de que a volta de Cristo é um ato exclusivo de Deus e não a resposta a um anelo universal dos crentes. Não creio que Cristo seja um visitante indesejável que venha sem ser convidado. Para os que se perdem, pode ser assim, mas não para os fiéis. Uma tentativa simples de conciliar a aparente contradição entre “tardança” e “tempo determinado por Deus” seria a seguinte: suponhamos que eu conheça muito bem a estrada que vai de Belo Horizonte para Salvador. Em situação normal, um ônibus gastaria em torno de 23 horas de viagem de um a outro ponto do trajeto. Mas, um amigo meu está indo para lá e eu sei que no dia de sua viagem deslizamentos de terra bloquearam parte da estrada, que o ônibus está com o motor em superaquecimento e que o motorista não é dos mais experimentes. Na metade do caminho ele me liga: “Puxa, já se foram mais de 30 horas e nós ainda não chegamos nem perto de Jequié!”. Eu então lhe revelo que se as condições fossem outras ele já estaria em Salvador passeando pela praia de Itapuã. Veja, eu sei quando ele chegará, pois conheço a estrada, mas também sei quando ele “chegaria” se as condições fossem outras. Assim quando Deus diz que tem claro em sua mente o tempo determinado para a volta de Jesus, é porque ele sabe quando será esse tempo, mas quando diz que poderíamos já estar no céu, é porque sabe que se a igreja tivesse tomado outras atitudes, a viagem seria sensivelmente mais curta. É a diferença entre 40 dias e 40 anos peregrinando com os hebreus pelo deserto! E note que um dos principais, senão o principal elemento que torna nossa viagem mais ou menos demorada é justamente a tomada de decisão pela reforma e o reavivamento. Portanto, vamos fazer nossa parte e deixar os resultados com Deus.
6 – Deixe duas mensagens sobre a importância de participar desta corrente de ação em busca da benção do Santo Espírito. Uma para pastores e lideres, outra para membros leigos.
Para meus amigos de ministério, eu diria que nossa pior desgraça neste momento seria o uso meramente profissional das Escrituras. Não podemos aderir a esse programa apenas como um funcionário adere ao programa administrativo de sua empresa. Não se trata de meta de vendas nem de estratégias para obter mais clientes. É uma busca sincera e honesta por Deus que ultrapassa o simples cumprimento de um programa institucional. Somos obreiros de Cristo, chamados por Deus. Se repetirmos o discurso apenas porque o presidente falou, então não seremos nada além do que garotinhos de recado e creio, sinceramente, que Deus nos chamou para algo mais do que isso. Quanto aos irmãos leigos, deixe-me dizer que, embora existam técnicas acadêmicas que só se aprendem num curso formal de Teologia (exegese, homilética, grego etc.), no que diz respeito à pregação do evangelho e à defesa das verdades bíblicas para o tempo do fim, todos temos o mesmo papel a desempenhar. O famoso acadêmico Karl Barth dizia: “O que é a Teologia senão o crente refletindo sobre sua fé?”. Concordo com ele. Portanto não me sinto de modo algum um “técnico em Deus” (isso seria a pior das blasfêmias). Deixemos de lado qualquer tentação de rivalidade ou desconfiança em relação à obra e colaboremos com esse programa da Conferência Geral. Há pastores que erram, eu sei. Mas também há membros que erram. O que não podemos neste solene momento da história deste mundo é fixarmo-nos no erro ou nos portarmos como um bando de porcos espinhos numa noite de inverno, onde um quer se aconchegar ao outro, mas o espinho de ambos não permite. Sejamos unidos, e que o mundo sinta nesta união o calor do Espírito Santo. Afinal o que significa ser adventistas do sétimo dia? Adventistas = ele está por vir; Do Sétimo Dia = por isso eu serei fiel. Seja esse o nosso lema, o resto é comentário.
Ainda não conhece esse lindo projeto de nossa igreja? Veja agora mesmo o documento oficial, votado pela conferencia geral dos Adventistas do Sétimo dia. Apelo Urgente por Reavivamento, Reforma, Discipulado e Evangelismo.
Apelamos a cada administrador, líder de departamento, obreiro institucional, obreiro da saúde, colportor, capelão, pastor e membro da Igreja a se unir a nós em tornar o reavivamento, a reforma, o discipulado e o evangelismo as prioridades mais urgentes e importantes de nossa vida pessoal e em nossas áreas no ministério. Estamos certos de que, ao buscarmos a Deus juntos, Ele derramará Seu Espírito Santo sem medida, a obra de Deus na Terra será concluída e Jesus virá. Juntamente com o idoso apóstolo João, na Ilha de Patmos, clamamos: “Vem, Senhor Jesus!” (Apocalipse 22:20).