terça-feira, 14 de julho de 2009

O que Creio sobre a Morte - parte I

Autor: Prof. Gilson Medeiros

Um dos ensinamentos bíblicos mais confortadores e maravilhosos para os cristãos é o que assegura a ressurreição da vida, para os que morreram em Cristo (cf. Jo 5:28-29; 11:15-27). Aqueles que entregam suas vidas aos cuidados amorosos e redentivos de Cristo, e passam pela morte antes de Sua vinda, serão ressuscitados e elevados ao encontro do Senhor nos ares, ou seja, nas nuvens (cf. 1Ts 4:15-17; 1Co 15; Mt 24:30; Mc 13:26; Ap 1:7). Esse ensino é tão maravilhoso que o apóstolo Paulo orientou a Igreja a consolar-se mutuamente com tais palavras, especialmente nos momentos de luto (cf. 1Ts 4:17).

A IASD crê que os mortos não recebem imediatamente após a morte a sua recompensa eterna.

Uma vez que os mortos em Cristo serão ressuscitados por ocasião da vinda de Cristo (cf. 1Ts 4:15-17), fica evidente que a recompensa não é dada imediatamente após a morte, como acreditam muitos dos cristãos atuais, equivocadamente.

Seria muito estranho alguém que morre hoje e já vai para a “glória”, ou “seio de Abraão”, por ocasião da volta de Cristo ter que retornar ao corpo para ser ressuscitado e voltar novamente para a “glória”. É uma confusão que a Bíblia não sanciona. Por isso, a Igreja Adventista não acredita que uma pessoa vá imediatamente para o céu ou para o inferno, por ocasião da morte, conforme veremos melhor nos tópicos seguintes.

A IASD crê que a morte é um sono, como o próprio Jesus ensinou.

A Bíblia ensina claramente que a morte é como um “sono”, no qual “dormimos” até o dia da ressurreição (cf. Jo 11). Não é bíblico o ensinamento de que o homem possui uma “alma” indestrutível e imortal, que “sai” do corpo por ocasião da morte.
Quando o Senhor formou o homem do pó da terra, Ele soprou em suas narinas, e o homem passou a ser “alma vivente” (cf. Gên. 2:7; 1Co 15:45). É uma “equação” natural:

PÓ DA TERRA + FÔLEGO DE VIDA = ALMA VIVENTE

Por ocasião da morte, cessam todos os sentimentos, desejos, mágoas, etc. A pessoa não mais “tem parte” com nosso mundo, ou seja, não há como haver qualquer comunicação entre vivos e mortos, porque estes estão “dormindo” (cf. Ecles. 9:5-6). Deus sabe muito bem dessa impossibilidade de comunicação entre vivos e mortos, por isso o Senhor proibiu Seu povo de tentar tal “comunicação”, para não serem enganados pelos espíritos dos demônios (cf. Lv 19:31; 20:6; 1Sm 28:7-25; Is 8:19; 1Tm 4:1; Ap 16:14). Como os mortos estão dormindo, e não possuem "almas" que ficam vagando por ai, quem se apresenta "do além" para se comunicar com os vivos são os espíritos demoníacos.

Em vários outros locais a Bíblia sempre se refere à morte como a um sono. Por exemplo:
a) Sal. 115:17 – já que os mortos não vão imediatamente para o céu, é evidente que eles não podem louvar ao Senhor.
b) Mt 9:24 – se Jesus sabia que a menina estava morta, como os parentes já haviam constatado, por que Ele falou que ela estava “dormindo”? É claro que é porque Jesus comparava a morte a um sono (cf. Mt 27:52; Mc 5:39; Ef 5:14).
c) 1Co 15:17-18, 51-53 – o apóstolo Paulo também é muito enfático em dizer que os mortos estão apenas “dormindo”.
d) 2Pe 3:4 – os demais discípulos também compreendiam que a morte é um sono.

Não há como fugir do claro ensino bíblico acerca da morte. Ela nada mais é que um sono, do qual todos um dia acordarão, seja na ressurreição da vida, seja na do juízo (cf. Jo 5:28-29). Por isso, não podemos acreditar em doutrinas equivocadas, tais como: purgatório, inferno eterno, reencarnação, espiritismo, assombração, mediunidade, etc. Nada disso tem base na Bíblia, mas sim no paganismo, que sempre acreditou na imortalidade da alma e, através do pensamento grego, principalmente, conseguiu infiltrar-se no Cristianismo.

O renomado teólogo não-adventista, Oscar Cullmann, também reconheceu que o ensino dos grandes filósofos Sócrates e Platão (que disseminaram a heresia da imortalidade da alma) não pode, de forma alguma, ser harmonizado com o do Novo Testamento, pois este trata da ressurreição, e não da imortalidade da alma.

A Bíblia declara que apenas Deus é imortal (cf. 1Tm 6:16), e somente na ressurreição é que Ele dotará os salvos com este dom (cf. 1Co 15:50-54). A alma, por outro lado, é mortal, pois, como vimos, nada mais é do que o fôlego de vida que o Senhor concede a todo ser vivo (cf. Ez 18:4, 20; Gên. 2:7).

A Igreja Adventista, mais uma vez, sai na frente no debatido tema da “vida após a morte”, pois prefere permanecer com o que a Bíblia ensina, a confiar em doutrinas e especulações meramente humanas e pagãs, como o é a imortalidade natural da alma (cf. Hb 9:27).

O que Creio sobre a Morte - parte II

Autor: Prof. Gilson Medeiros

Dando continuidade a esta série de temas sobre o estado dos mortos, quero completar com algumas reflexões sobre a heresia do inferno, complementando o que postei anteriormente.

Os Adventistas não crêem que os ímpios serão atormentados eternamente em um lago de fogo infernal.

Uma das doutrinas mais assustadoras que a mente humana já foi capaz de criar é a do lago eterno de fogo, que queimará por um tempo indefinido aqueles que não aceitarem a salvação em Cristo. Chamam tal lugar de “inferno”. Não podemos acreditar em tal absurdo e ainda continuarmos crendo em um Deus de amor e misericórdia (cf. 1Jo 4:8, 16; Jo 3:16)! Isso é totalmente incompatível com o ensino da Bíblia.

A doutrina do inferno eterno foi surgindo aos poucos no seio do cristianismo primitivo, e foi usada como ferramenta de medo para “converter” mais facilmente as pessoas. Mas, de onde surgiu essa doutrina? Ela tem suas raízes muito antes do surgimento da Igreja Cristã. Tenho um extenso material de pesquisa sobre como o tema do inferno foi introduzido no cristianismo. A seguir está um resumo do que descobri.

Na mitologia grega havia uma divindade que era a responsável pelo mundo subterrâneo, considerado o destino final dos mortos. Seu nome era Hades. Um outro nome para Hades era Plutão, simbolizando que ele também era o dono de todas as riquezas que existem sobre a Terra. Embora Hades apareça poucas vezes nas lendas gregas, ele é bastante mencionado, citando-se como algumas de suas principais participações o rapto de Perséfone, o 12º trabalho de Héracles, e o de Orfeus e Eurídice.

Primariamente, o reino de Hades era localizado no extremo ocidente, além do “rio Oceano” (segundo a Ilíada, de Homero). Posteriormente é que ele foi situado abaixo da superfície terrestre, passando a inspirar alguns séculos depois o pensamento cristão ocidental e asiático acerca do inferno (um lago de fogo subterrâneo).

O Judaísmo primitivo (é só ler o Pentateuco para verificar) não contemplava nenhum tipo de vida posterior, nem felicidade para os bons, e nenhum tormento para os maus. Nos Salmos e Profetas, no entanto, já aparece uma esperança de imortalidade. Mas são nos livros pseudepígrafos e apócrifos onde esta esperança desenvolveu-se de forma mais acentuada. No Antigo Testamento, o pensamento hebreu assemelha-se, em alguns pontos, ao grego quando refere-se ao estado da morte:

Entre os hebreus, o local equivalente ao Hades grego chamava-se Sheol, que por sua vez possuía dois compartimentos: um para os bons e outro para maus; o inferno seria, então, o compartimento dos maus.

Os israelitas, de modo geral, preocupavam-se mais com o tempo presente, e estarem preparados e aptos para entrarem no mundo vindouro. Sua concepção acerca do inferno e destino dos condenados, após a morte, não influenciou a concepção católica, tanto quanto aconteceu com a mitologia grega e pagã.

Alguns historiadores eclesiásticos afirmam que os escritores pastorais eram muito mais específicos a respeito do Inferno que do Céu; escreviam como se tivessem estado lá. Os três grandes doutrinadores medievais – Agostinho, Pedro Lombardo e Aquino – insistiam em que as penas infernais eram tanto físicas quanto mentais e espirituais, e fogo de verdade tomava parte dos tormentos.

Vê-se, então, que a doutrina do inferno desenvolveu-se paulatinamente, desde o início do catolicismo romano, e foi cada vez ganhando mais força e adeptos ao longo da Idade Média, chegando até os dias atuais. Basta uma pesquisa rápida na Internet (modernamente o meio de comunicação mais eficaz para disseminar ensinamentos e ideologias), nos sites reconhecidamente católicos (extra-oficiais), para se verificar que o pensamento sobre o inferno continua enraizado na mente e nas declarações da Igreja. Um destes sites, por exemplo, transcrevendo um artigo de John Vennari, declara que o tema do inferno faz parte das “revelações” de Fátima à humanidade, ocorridas em 1917.

Os protestantes também assimilaram a doutrina do inferno, e fazem dela um ponto importante em seus ensinos. Por exemplo: o Centro Apologético Cristão de Pesquisas, mantido por um grupo de pastores evangélicos de São José do Rio Preto, SP, afirma em sua declaração de fé a crença de que “aos salvos está destinado o gozo eterno no céu ao lado de Deus, bem como aos perdidos à maldição eterna no lago de fogo por toda a eternidade”. Na Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira, o item XIX expressa que “os ímpios condenados e destinados ao inferno lá sofrerão o castigo eterno, separados de Deus”, enquanto que “os justos, com os corpos glorificados, receberão seus galardões e habitarão para sempre no céu, com o Senhor”. A Confissão de Fé de Westminster, da Igreja Presbiteriana, declara que “as almas dos justos, sendo então aperfeiçoadas na santidade, são recebidas no mais alto dos céus onde vêem a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus corpos; e as almas dos ímpios são lançadas no inferno, onde ficarão, em tormentos e em trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia final”. A Igreja Evangélica Assembléia de Deus, no site da sua congregação matriz em Imperatriz/MA, afirma crer “no juízo vindouro que recompensará os fiéis e con-denará os infiéis; E na vida eterna de gozo e felicidade para os fiéis e de tristeza e tormento para os infiéis”.

Como eu disse, realizei extensa pesquisa sobre o tema do inferno, e fiquei convicto do quanto esta doutrina foi se infiltrando no cristianismo, apesar de suas evidentes raízes no pensamento pagão e idólatra do helenismo.

O que achei mais interessante, é que tanto católicos quanto protestantes se utilizam de textos bíblicos isolados do seu contexto para tentar provar o quanto Deus é justo enviando as pessoas ao tormento eterno do inferno. Que contradição!

Segundo o eminente teólogo Dr. Samuele Bacchiocchi, a crença no “aniquilamento dos ímpios”, ou seja, na doutrina bíblica de que Deus colocará um fim definitivo ao pecado (e não manterá os ímpios no fogo eterno) está baseada em quatro considerações bíblicas fundamentais, que comprovam a falácia da argumentação sobre o inferno eterno:

1) A morte como castigo do pecado.
2) O vocabulário sobre a destruição dos ímpios.
3) As implicações morais do tormento eterno.
4) As implicações cosmológicas do tormento eterno.

OBS.: Clique aqui e veja o estudo completo do Dr. Bacchiocchi.

O propósito do plano da salvação é desarraigar definitivamente a presença do pecado e dos pecadores deste mundo. Somente se os pecadores, Satanás e o mal são afinal consumidos no lago de fogo, e extintos na segunda morte, é que verdadeiramente poder-se-á dizer que a missão redentora de Cristo foi concluída. Um tormento eterno lançaria uma sombra permanente sobre a nova Criação.

Mais uma vez, os Adventistas estão corretos, pois ficam entre os que preferem ver Deus como a Bíblia O apresenta – amor, bondade e justiça – do que da maneira como os que defendem a existência eterna do inferno ensinam – vingança, crueldade e sadismo.

"E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram" (Apoc. 21:4).