Quem São os Sete Reis de Apocalipse 17?
Quando lemos o capítulo dezessete do livro de Apocalipse, nos deparamos com o seguinte verso:
“Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis, dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e quando chegar, tem de durar pouco”. (Ap. 17:9 e 10).
Muitas são as tentativas de interpretação desta profecia, todavia, o contexto e a perspectiva temporal do profeta que a escreveu por vezes são ignorados.
Será proposta uma análise bíblico-histórica, levando-se em conta a interpretação tradicional adventista das profecias de Daniel e contextualizando a mensagem na perspectiva do profeta em visão.
Antes de estudarmos o texto, devemos notar que “reis” na profecia, é sinônimo de “reino” (ver Daniel 7:17 e 23), não permitindo assim, identificar esses reis como papas ou formas de governo (realeza, consulado, ditadura, triunvirato, etc.).
O livro de Daniel é a chave para compreendermos o livro de Apocalipse. “Estudai o Apocalipse em ligação com Daniel; pois a história se repetirá” [1], escreveu E. G. White.
A primeira pergunta que temos que responder é: qual o ponto de partida da visão?
Uma análise superficial concluiria que seria o tempo em que o profeta estava vivendo, ou seja, Roma Imperial (ou pagã). Desta forma, os cinco reis ou reinos que caíram seriam: Egito, Assíria, Babilônia, Medo-Pérsia e Grécia. O reino que existe seria Roma Imperial (pagã) e o que não chegou seria Roma Papal.
No entanto, temos algumas dificuldades com essa interpretação:
1- O Egito e a Assíria não aparecem na lista de reinos das profecias do livro de Daniel, que são base da interpretação do livro de Apocalipse.
2- O reino de Roma Papal teria que durar pouco (v. 10). Levando-se em conta que a Terra tem cerca de 6.000 anos, os 1260 anos de duração de Roma Papal, acrescentados ao período em que ela seria ferida e restaurada, tornam difícil essa interpretação, pois esse é um longo tempo.
3- O texto diz que esse poder (Roma Papal – simbolizada pela besta) era, não é, e está para surgir (v. 8 e 11). Isso revela que no momento da visão, Roma Papal não estava agindo, e sua ação estava no passado. Uma vez que João vivia antes do surgimento de Roma Papal, e não depois, torna-se difícil harmonizar este texto com a presente interpretação.
A chave para entendermos o texto, seriam os versos iniciais, que mostram o ponto de partida da profecia. O profeta é transportado para um outro período da história, ou seja, ele é levado pelo anjo para contemplar os acontecimentos futuros. “Transportou-me o anjo, em espírito, a um deserto e vi uma mulher montada numa besta escarlate” (v. 3).
Outros profetas também contemplaram cenas de tempos futuros, como Daniel (Dn. 12:8 e 9).
A questão agora é: para que tempo o profeta foi levado?
Observe algumas referências temporais deixadas pelo texto:
1- “Vem mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas” (v.1). Esse era o período que Roma Papal deveria ser julgada. A meretriz é a Igreja Romana que estava sustentada por povos e multidões (v. 15). O profeta foi levado para o tempo em que já existia a Igreja Romana e ela já havia conquistado multidões. “O momento da visão é a hora do juízo, o tempo do fim, que inicia em 1798/1844, por ocasião do término dos 1.260 dias-anos". [2]
2- “Então vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus” (v. 6). Essa é uma referência ao período de domínio de Roma Papal (1.260 anos) em que foram perseguidos e mortos muitos fiéis. O profeta foi levado para um tempo posterior a esses acontecimentos.
3- “Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério: babilônia, a grande, a mãe das meretrizes e das abominações da terra” (v. 5). O foco de Apocalipse 17 é sobre Roma Papal, e não Roma Imperial (pagã). “No capítulo 17 de Apocalipse, são preditas as destruições de todas as igrejas que se corrompem mediante a devoção idólatra ao serviço do papado...”. [3]
O verso oito afirma: “a besta que viste era e não é, está para emergir do abismo...”.
João, portanto, foi levado para o período que Roma Papal havia recebido a ferida mortal (“não é”) e que seria, segundo a profecia, curada (“está para emergir” – em 1929 foi criado o Vaticano, ou seja, foi iniciado o processo de cura da ferida - Ap. 13:3).
Tomando por base a seqüência de reinos de Daniel, os reis que caíram são: Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia, Roma Imperial (Pagã) e Roma Papal. [4]
O reino que existe (“um existe” v. 10) é Roma Papal Ferida (note que Roma Papal não deixou de existir, só estava ferida) e o que chegaria seria Roma Papal Curada, que duraria pouco.
O verso onze afirma que o oitavo rei é o mesmo poder de Roma Papal: “E a besta, que era e não é, também é ele, o oitavo rei, e procede dos sete, e caminha para a destruição” (v. 11).
A diferença é que o oitavo rei recebe o apoio e autoridade dos dez chifres ou dez reis (v. 12).
Estes são os reinos de Roma Dividida (os mesmos de Daniel – ver Dn. 2:41 a 44; 7:24) que representam a Europa. Note o seguinte comentário: “Os ‘dez chifres’, que representaram os intolerantes reinos da Europa que agora constituem democracias mais ou menos tolerantes, tornar-se-ão novamente entidades totalitárias, asperamente intolerantes”. [5]
Desta forma, o oitavo rei é a besta totalmente curada e plena de autoridade e poder mundial (v. 13), que durante “uma hora” ou quinze dias (na relação 1 dia/1 ano) exerce plenamente seu poder para a última tentativa de destruir o povo de Deus, o Armagedom.
Assim, o importante é que Apocalipse 17 nos garante a vitória do Cordeiro contra Satanás e seus poderes. Essa é a mensagem deste capítulo, que deve produzir em nós segurança e plena confiança que Cristo está em pleno controle da história deste mundo.
Hoje é tempo de firmarmo-nos nas verdades bíblicas consagrando nossa vida inteiramente a Deus até o breve retorno de Jesus.
[1] Ellen G. WHITE, Testemunhos Para Ministro. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1993) 116.
[2] C. Mervyn MAXWELL, Uma Nova Era Segundo as Profecias do Apocalipse. (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 1998), 491.
[3] Ellen G. WHITE, Comentário Bíblico Adventista del Séptimo Dia - 7-A – Comentários de E. G. de White (Buenos Aires: Asociacion Casa editora Sudamericana, 1994 ), 994.
[4] Henry FEYERABEND, Apocalipse Verso por Verso (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2005), 150.
[5] C. Mervyn MAXWELL, Uma Nova Era Segundo as Profecias do Apocalipse, 495.
Mestre em teologia e pastor da Igreja Adventista em Pelotas - RS Casado com Andressa, mestre em educação.
Editor Associado do Blog Nisto Cremos e Editor do Blog Igreja Adventista de Pelotas
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